A vida é demasiado curta para que desperdicemos uma parte preciosa a fingir

terça-feira, janeiro 11, 2005

Almoço no Chiado



- Desculpe, importa-se de partilhar a mesa comigo? Esta é uma pergunta muito comum nos armazéns do Chiado que pela hora de almoço se entopem de pessoas. Sobretudo na parte de restauração, como é óbvio.
Lá fora está um belo dia de Inverno. O Sol atreveu-se a aparecer e o céu está sem nuvens, como vem sendo hábito nos últimos dias. Cá dentro, alheio à meteorologia, desenrola-se a habitual agitação desta hora. Embora já seja um almoço tardio. As mesas disponíveis nunca são suficientes para a quantidade de gente que aparece para almoçar. O sofá junto à parede torna-se a única hipótese para quem, segurando o tabuleiro, procura, inutilmente, lugar Todos os dias a situação repete-se. É a “hora de ponta” do Chiado!
O burburinho é constante. Cruzam-se as mais diversas conversas, que vão desde o mais banal diálogo sobre a vida quotidiana a discussões sobre política e o estado em que se encontra o país. O cheiro “combinado” das várias comidas impõe-se. A chamada fast-food reina aqui! As escolhas estão entre o já tradicional McDonald’s, a comida israelita, sandes, sopas, entre outras opções mais saudáveis para quem se preocupa com a alimentação.
As empregadas, vestidas com uma camisa impecavelmente branca e de avental marrom vão circulando. Asseguram que todas as mesas estão prontas a serem de novo utilizadas. Enquanto as pessoas terminam a refeição, arrastam-se cadeiras, deixa-se para trás os tabuleiros. Neste corrupio de trocas de lugares, sobressaio o choro de um bebé de meses. A fome não perdoa. Os jovens pais almoçam, não conseguem dar a devida atenção à lourinha. Parecem estrangeiros.
O espelho reflecte as faces esfomeadas que por aqui vão passando. Reflecte os vários tipos de almoços que por aqui se fazem. Almoços românticos junto à janela, almoços de convívio entre amigos, almoços solitários de quem trabalha perto e vem aqui para “desenrascar”...
Depois dos estômagos cheios, o vício tão pouco saudável do tabaco começa a revelar-se, acompanhado do café expresso, que mesmo aqui ao lado o Il Café di Roma se encarrega de servir. O fumo dissipa-se pelo ar. Ouve-se agora um música ambiente bem lá no fundo, apenas audível porque o murmúrio acalmou por momentos.
Chegou agora a vez da bebé de fato roxo se alimentar. Ao colo da mãe a bebé é amamentada. Sofregamente aperta com a suas pequenas mãos a camisola da mãe, enquanto o pai trata de ir buscar os cafés.
Os seguranças vão cirandando, com os seus uniformes cinzentos e de auricular no ouvido. Talvez procurem alguém que causou distúrbios, ou apenas estejam numa volta de rotina. A bebé adormece agora nos braços da mãe.