Stand Up Bruno

(Apresento-vos um trecho do espectáculo que esteve em cena do teatro S. Luis, "Manobras de Diversão")

BRUNO interrompe dançando com o seu bastão: O que é isto? A Minha Linda Crise?
Hola, yo soy Bruno y voy a hacer una pergunta a ustedes: era preciso estar com esta merda toda? Porque será que aquilo que os portugueses consideram ser um grande espectáculo português tem que ser uma imitação de uma coisa que já rodou em 50 países em todo o mundo? O que é que se segue? Já sei: vamos fazer o “Cats”. Vamos chamar­‑lhe assim… “Aqui há gato!”. Hein? Brilhante, não é? E o protagonista podia ser, sei lá, olha o… Carlos Quintas. E depois podíamos fazer o… “Chicago”. Na versão portuguesa, o “Cartaxo”. E para fazer de Richard Gere?… Não estou a ver… Tem que ser um actor muito bom e surpreendente. É isso: o Carlos Quintas! Boa….Mas há uma coisa fundamental que estes espectáculos precisam de ter… não pode ser tristonho, têm de ser assim uma coisa “p’ra cima”. Ora, o que é que faz uma pessoa ir para cima: os elevadores.É por causa disso que todas as produções do La Féria têm elevadores, cheios de reformados e de jovenzinhos canastrões a cantar:(simula)“Lisboa, Lisboa, Lisboa!”, todos de plumas e lantejoulas. Eu aposto que, mesmo que o espectáculo se chamasse “Passa por mim em Bagdad”, o senhor La Féria havia de conseguir meter um batalhão inteiro de iraquianos com plumas no cu, a cantar…(igual ao anterior)“Bagdad, Bagdad, Bagdad”. É que, ainda por cima, o La Féria é dos poucos portugueses que continua a safar­‑se lindamente seja qual for a gravidade da crise. E eu descobri porquê. É porque ele se chama La Feria… não é o senhor Filipe A Feira. O senhor La Féria é o português mais espanhol que eu conheço. Faz tudo com tanta alegria, tanta alegria, que se eu o mandar para o caralho, ele não só vai, como leva consigo 100 actores e cantores, 50 bailarinos, 200 figurantes, duas toneladas de projectores e lantejoulas e tudo a cantar: “Pó caralho! Pó Caralho! Eu vou mas é para o caralho”.